sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Curtas: Momentos sinceridade...

- Quando eu falo que esse é um blog verdadeiro, é... porque eu realmente estou falando a verdade! Organizando algumas fotos da viagem, eu encontro a incrível foto acima: eu, na H&M de Zurique! :) Bem, e como eu tinha falado no post anterior: brilhos, tachas, dourados, cintos com pele de cobra (fake, bien sur, porque pelo preço da H&M, a pele deve ser de prástico mesmo e a mão-de-obra uma seríssima joint venture de orfãos chineses e prostitutas mirins de Calcutá...). E a skinny famosa skinny verde-musgo (damn it! A vermelho-sangue nem a roxo cabiam em mim!) que custou módicos 5 francos suíços (mais barato do que... bem, basicamente o preço de dois cheeseburgueres do Mac Donalds). Enfim, olhem as cores das camisas, das t-shirts, das calças.... e apreciem o paraíso capitalista que uma H&M é. E rezem para que os suecos resolvam incluir Austrália e América do Sul logo nesse mundo feliz... Aaaaaah... :)

- Todo mundo tem um guilty pleasure: uma das minhas melhores amigas é marxista ferrenha, defensora dos direitos das classes desfavorecidas, bla bla bla... mas é a minha melhor companhia na hora de ficar folheando Vogue e decidir se Paris foi muito melhor do que Milão na última temporada. Outra, uma economista formada inteligentíssima... que adora assistir BBB e todo aquele drama-bipolar-superficial que acaba tomando conta do país durante os meses de exibição do programa (gentém, e pensar que o Bial já foi um jornalista prestigiado, correspondente internacional, que presenciou até a Queda do Muro de Berlim... Principal coisa que lembrarão da carreira dele? Ele com cara de sujo e amassado + bando de filosofia barata que parece ter sido tirada da última coluna Maktub do Extra em um programa de reality show. Dá para ficar pior?).

E vendo TV de madrugada, eu pensei nos meus guilty pleasures televisivos... Quais são eles? Ok, esse é um blog verdadeiro, então eu tenho que jogar limpo... Aí vão alguns (sorry pelas decepções que irei causar, leitores...):

Novela do Manoel Carlos: Eu sei que é um mundo irreal. Eu sei que os dialogos são péssimos. Eu sei que as atuações são sofríveis e que a história é basicamente a mesma desde "Uma História de Amor" (quando Regina Duarte ainda era uma botox virgin e usar vestido florido com Keds branco tava na moda). Mas eu gosto de novela do Manoel Carlos, ponto final. Acho que levanta a auto-estima de ser carioca e é bem melhor do que novela passada em SP (por favor, ficar mostrando imagem da Berrini para querer passar uma imagem de SP = NYC e colocar personagem com sotaque italiano da Móoca é uma forma tão rídicula de mostrar a maior cidade desse país... SP merecia representações mais cuidadosas e melhores...). E eu atóoro aqueles barracos familiares homéricos (sempre que vejo aquelas patricinhas do Leblon loiras-branquinhas-vestindo-Farm imagino elas chegando em casa e caindo na porrada com as primas enquanto berram "Você não tinha direito de fuder com o Pedrinho antes de mim, sua VAGABUNDA!!!!".). Enfim, é um tipo de entretenimento brainless que me atrai, bem semelhante ao próximo guilty pleasure...

The Hills. E The City: Praticamente a versão gringa das novelas do Manoel Carlos, com uma trilha sonora um pouco mais cool produzida pela MTV e um figurino bem mais fodástico. Mas vamos combinar - todo esse glamour é compensado pela situação geral da coisa (trash toda vida): um reality show que acompanha todos os passos, 24h/dia da vida de um grupo de amigos de LA / NYC?! E o pior, insistindo na tese de que aquilo realmente é a realidade?! E os personagens: Lauren Conrad se supera na bananice mór por já não ter atropelado Spencer Pratt e Heidi Montag com a Mercedona utilitária dela (e eu me recuso a sequer falar da Kristin - ela era uma idiota em Laguna Beach, não sei para que produtor importante ela deu para conseguir o main role em The Hills). E Whitney Port? Eu amo, adoro, vibro de emoção toda vez que ela é humilhada/esnobada/colocada de volta no lugar dela pela Olivia Palermo (sério, essa mulher deve andar com um photoshop ambulante. Não é possível: os dentes, o cabelo, as roupas dela, o que são?! Porra, e ainda é rica e com senso crítico cínico-filha-da-puta? Pediu para ser perfeita, ou tá bom?!). E eu gosto das aberturas: acho Unwritten - Natasha Bedingfield bem "dia-de-sol, dirigindo pela auto-estrada Lagoa-Barra indo encontrar um playba gato no Barra Point" e toco "Top of the World - PCD" no meu iPod nos momentos em que eu preciso do meu lado "It's all about business, loser...".

Programa Amaury Junior: Okay, esse é um guilty pleasure televisivo hardcore. Eu sei, eu sei: é um dos maiores lixos da televisão brasileira (tudo bem, Sabbah show consegue ser pior, vamos combinar...), o Amaury Junior leva o prêmio de maior vaselina da televisão brasileira (tem horas que eu fico preocupado se eu estou sendo falso demais quando eu me pego cumprimentando pessoas na faculdade ou em festas como ele faz, bem no estilo "E aí fulaninha de tal, e como vai a família? E os projetos para 2010?") e o programa consegue cubrir os eventos mais inúteis e cafonas do território nacional. Mas por ser tão ruim... acaba sendo bom, sabe? Onde mais dá pra ver aquelas velhas paulistanas loiras-botocadas-e-podres-de-rica se achando mega elegantes por estarem na inauguração da mais nova loja Carmen Steffens no Iguatemi, ou ver o próprio Amaury de piliquinho pagar um petit monkey ao entrevistar algum arquiteto/decorador/stylist completamente desconhecido para qualquer um que não leia Caras nem more nos Jardins/Alphafaville? E ainda tem o Casino Conrad (chiquérrimo, néam? Para que Las Vegas ou Atlantic City quando se tem esse elegantérrimo balneário chamado Punta del Este tão perto?), a Churrascaria Vento Aragano (o melhor churrasco de SP!) e outros milhares de patrocinadores que passam ao som de alguma música ultra-vintage.

Se você for um telespectador assíduo, ainda corre o risco de presenciar momentos felizes: Amaury, em qualquer viagem internacional, tentando falar espanhol e inglês (ah, ele na Disney sempre é uma aventura tão agradável de se ver...). E melhor do que isso... momentos históricos: eu vi Narcisa Tamborideguy (minha musa: somente o sorriso dela me deixa feliz, sabe? Tipo "sorriso-de-criança-de-morro-que-acabou-de-ganhar-caminhaozinho-de-plástico"?) na histórica do entrevista do baile de carnaval do Copa pagando peitinho de Valentino vermelho (melhor rosto ever: depois de horas com o peito para fora, ela olha para baixo, percebe que o peitinho tá pra fora, coloca o dito cujo para dentro, e continua com o carón. Dá pra ser mais diva do que isso?!).

E os senhores leitores? Quais são os guilty pleasures televisivos de vocês?

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

It's official: Banzo mode on

Existe um estudo do antropologista Kalervo Oberg, de por volta de 1960, que serviu de base para a elaboração da chamada "curva dos choques culturais". Mas o que seria a curva de choques culturais (adoro esse momento "auto-pergunta". Acho tao acadêmico-chato-mala :D)? Basicamente uma simplificação do sobe-e-desce de humores pelos quais passa uma pessoa quando mora em um país/cultura diferente por um período de médio ou longo prazo. 


(É queridoes, morar na Europa nao é só ficar pirigueteando de sobretudo e cachecol pelas ruas cobertas de neve, tomar um vanilla mocha chocolate crunchy venti no Starbucks dando pinta para os locais e cosméticos La Roche Posay por precinhos acessíveis nao... Foi muito difícil, táh! #draminhamodeon).

Basicamente again (amo "basicamente") a curva é a que os senhores acadêmicos podem encontrar aqui abaixo:
E as fases... sao muito fáceis de serem descritas por quem já morou fora. Quer ver só?
Fase 1 - Honeymoon (Lua-de-mel): Aquele momento que voce (brega, sem estilo, sem glamour, recém chegado do Third World) entra pela primeira vez na H&M. As portas se abrem. Seu queixo vai no chao, o rostinho quebra de lado. Brilhos, tachas, dourados, cintos com pele de cobra (tudo isso na secao masculina). Voce pega aquela calca skinny vermelho-sangue que praticamente grita "Eu sou viado SIIIM!" léeeeeeeenda mega-hype que voce viu no Sartorialist e olha o preco. A lágrima de emocao escorre pelo rosto, suas maos tremulam. SIM, voce enquanto estudante de intercambio fudido poderá ter glamour, ter estilo, ter brilho por um preco acessível! Adeus vida sem glamour; Salut estilo, charme, elegancia! Welcome to Europe. ;)

Fase 2 - Hostility (Hostilidade): O momento em que literalmente "Fudeu". A fase "voce rolando pela grama do Stadtpark, agarrado com as suas skinny jeans, Gola's e cachecóis gritando 'Obrigado G-zus, Abencoada seja Our Lady of Gaga!' " passou. A H&M se tornou... normal (táh, mentira: nunca se torna normal. Se voce é brasileiro eXperto, se lembra fácil de realidade que te espera no Brasil: C&A creiço fashion x Osklen cobrando uma fortuna por uma camisa proto-playsson-"Partiu Barô?"). As velhinhas alemas te xingam quando voce atravessa a rua no sinal vermelho - com nenhum carro a vista vindo dos dois lados. O Mac Escravo te dá um sermao (em voz alta) porque voce esqueceu de colocar a bandeja na prateleira de "Retorno", e o seu amigo alemao dá razao a ele, comentando que "latinos-americanos estao acostumados a terem pessoas fazendo tudo por eles" e "que as coisas nao sao assim na Alemanha" (me dava um ódio esse frase). Voce tá depre, liga para o seu amigo alemao pedindo para encontrar com ele e desabafar, ele vira e fala "Olha, agora eu to ocupado, mas eu tenho uma hora prum café daqui a duas semanas? Topa?". Nessa fase comeca a bater uma mágoa de cabocla fuderal, voce comeca a falar mal dos alemaes como se fosse a coisa mais normal do mundo (gente, detonei tanto a imagem dos alemaes Europa-wide... Tadinhos...) e tem horror de falar uma palavra sequer do idioma quando voce está fora do país (heehhe deixei tanto turista alemao se fuder em Portugal... hehehe).
Claro, e naquele dia que voce tá praticamente querendo se matar, voce vai receber aquela mensagem superfofa daquela amiga falando "E ai? Tá curtindo muito a Europa? Muita inveja! Aproveita muito, táh?". Ódio.

Fase 3 - At home: Um belo dia voce está em Londres e pensa "Ai, que desorganização!". Em Londres. Voce, do Rio de Janeiro. Logo depois, voce comeca a escutar alemao e ter certeza absoluta de que voce escutou portugues. Voce se frustra com cidades cujos os sistemas de onibus nao tem placares eletronicos mostrando em quantos minutos chega o próximo onibus (absurdo!), fica puto quando pessoas chegam 3 minutos atrasadas (como assim!) e comeca a beber cerveja a temperatura ambiente como se fosse a coisa mais natural do mundo (hmmm... lecker!). E pra terminar: uma hora, quando voce volta para a Alemanha de uma viagem, do nada comeca a surgir um sentimento completamente novo, um sentimento de "Ufa, cheguei em casa!".  Ai fudeu: voce se adaptou. E uma hora que voce se acostumou a vida boa...

Enfim, tudo isso para explicar que (afinal, Murphy nao é pai, é padrasto) depois de tuuuuudo isso, quando voce tá lá, quietinho, acostumado com a sua vidinha européia escura-friazinha-mas-legal-pra-caramba, bem na hora que voce tá bem feliz, chega a hora de voltar. E chuta só? Existe o choque cultural de reentrada (gentém, eu nao sei essas coisas de CDF que eu sou nao. Isso foi uma das únicas coisas que eu prestei atenção nas minhas aulas na Alemanha), que acontece quando voce volta para o seu país de origem depois de um tempo fora. Sao basicamente as mesmas fases, nos mesmos meses do choque cultural de entrada. Mas chuta só de novo: a amplitude da curva é maior, ou seja, o choque é ainda pior do que o se tem ao entrar em uma nova cultura. Olha só que legal!
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E por isso o título do post de hoje: estava lá eu, quietinho, escutando música. Tenho covardemente evitado ficar muito no Facebook para nao falar com os meus amigos alemaes, tenho covardemente evitado abrir as fotos de Hamburgo, mexer nas coisas de Hamburgo, ver qualquer coisa que me lembrasse Hamburgo. Os amigos do Brasil... já encontrei quase todos, entao novidade mais nao é, Fernando já está no Brasil, isso é fato. A fase inicial do "Wow, Brasil!" já meio que passou: é calor mesmo, é desorganizado mesmo, é informal mesmo.

E aí a porra do iTunes shuffleia para Krieger des Lichts - Silbermond, uma música que eu escutei horrores na hora de voltar para o Brasil. E ai fudeu: welcome segunda fase do choque de reentrada. A fase onde voce olha ao redor e pensa "Que porra eu to fazendo aqui?", onde voce tem a incomoda sensacao de se sentir estrangeiro no seu próprio país. Aí veio a coragem de abrir as mensagens de amigos queridos que ficaram lá e saber que o lago Alster congelou e as pessoas estao caminhando e patinando em cima dele. Que as festas e jantares dos estudantes do Erasmus continuam, com todo mundo se encontrando e comentando como voce faz falta.

E voce, aqui, do outro lado do mundo, olhando ao redor e se perguntando "Que porra eu to fazendo aqui?.
Saudades de Hamburgo. Saudades da neve, da cerveja barata e quente, da H&M, da Hauptbahnhof (Estacao Central), de andar na Jungfernstieg sábado a tarde com os meus amigos portugueses. De escutar alemao. De sair sábado a noite com amigos para a Reeperbahn e me divertir sem me preocupar com seguranca, dinheiro, como vou chegar em casa, com nada. Saudades dos amigos.
Saudades de me sentir em casa - fora de casa. Talvez seja isso que aconteca quando voce viaja muito - o estranho se torne o familiar. E daí a dificuldade de se acostumar ao que é normal, conhecido, esperado. :/

Mas enfim (again)...Odeio terminar posts de bad mood. Nao fazia na Alemanha isso, nem farei no Rio. Procurei olhar ao redor e ver algo para me fazer sentir um pouco melhor e poder compartilhar. Só precisei olhar para a janela em frente. E perceber que tem horas... que morar no Rio é incomparável...
Things will get better! (E eu responderei os comentários, prometo!).

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

It's so Brazil: Mundo (virtual) gay


Eu ainda nao saí para nights/baladas (esse é um blog carioca SP friendly. Paulistas, paulistanos, whatever: nao entenderam uma expressao, perguntem!), eu ainda nao fui dar pinta na bolsa de bofes e muitas vezes de valores também chamada Farme de Amoedo (ah, vamos combinar: dia de semana, só dá gringo e carioca-querendo-pegar-gringo na Farme. Depois de um ano na Europa, o que eu menos quero por perto é gringo deslumbrado com Rio de Janeiro falando "I loooooove Rio, I wish I could live here!" no meu ouvido. Argh!). Mas nao é que já deu para ficar nude ao relembrar alguns comportamentos bem típicos do mundinho member (of the family) daqui?! Quais por exemplo?

MSN: Sério, qual é o porquê da obsessão brasileira com MSN? Primeiro, é aquela conversa sem fim de "Ah, o que voce faz da vida? / Legal.../ E quantos anos voce tem mesmo?" que me dá um tédio mortal. Depois, aquela lista gigante de contatos que voce nao faz idéia de quem seja (pior sao aquelas mensagens de criaturas "Estou limpando o meu MSN: eu conheco voce?"). Meses que eu nao abria o meu MSN num horário mais compatível com o fuso horário local, ai voce já viu: foi chegar aqui, abrir o MSN e vir aquela chuva de "Nossa, quanto tempo voce nao aparece por aqui! Lembra de mim?". O que falar?!  Resposta sincera: "Nao, nao lembro. Ainda nao consegui terminar o meu estágio tipo CSI para identificação de potenciais terroristas. Afinal, esse vai ser o único jeito de reconhecer uma foto com uma pessoa com boné, óculos escuros e distante 30m da camera."? Nao, estou no Brasil: as pessoas sao sensíveis. (Scheiße!). 

"Me passa o teu MSN?": O ataque sempre segue a mesma estratégia: mensagem em site de relacionamentos, sempre de perfil tipo mula-sem-cabeça (sem foto de rosto) ou Frankenstein (fotos de pedacos do corpo: abdômen, braco, bunda... Que podem ser dele mesmo, ou do Hugh Jackman - afinal, nao dá pra ver nada mesmo...) falando "Adorei voce / Sou um cara mega especial + citação tipo Filtro Solar meets O Segredo  / Tenho fotos de rosto no meu MSN / Vamos tc lá?" (aliás, "tc" é fueda...). Qual o problema de entender a dificílima equação "Site de perfil perfis com fotos de rosto"? 

"To em busca do que rolar. E vc?": O mundo germânico é binário: sim ou nao. Coca-cola ou Pepsi. iPhone ou Blackberry. E isso também vale para o mundo gay: "foda-ultra-steamy/obrigado por ter vindo/até a próxima" ou "andar-de-maos-dadas-pelo-parque-vendo-as-folhas-cairem". Simples assim. A criatura vem falar comigo, e fica naquele papinho mole "E ai, qual é a boa de hoje?" e eu que vou ter que ficar decifrando mensagem codificada do que ele realmente quer? Ah, vai fazer uma terapia, caramba... Povo complicado demais...

(E finalmente, para mim o melhor, o ultra top, a frase praticamente "Welcome back to Brazil!!!") 
"Vc é afeminado?": Hmmm, vamos ver (Fernando pegando o meu bloco de papel roxo com as bordas douradas que eu ganhei no primeiro estágio que eu fiz na Alemanha):


A minha última aquisição na Europa foi uma calca skinny verde escuro na H&M (que raiva: corri os últimos meses atrás de uma skinny vermelho-vermelhao, última moda entre os hypes de Estocolmo, e finalmente achei uma na H&M de Zurique, minha última parada na Europa. Chuta o que aconteceu? Nao tinha o meu número. Sacanagy...): confere


Voltei da Europa com uma colecao de 9 cachecóis, incluindo um bem na fronteira do laranja-com-rosa que eu super vou usar aqui no Brasil (gentém, tao lindo ele!):  confere

Assisti um episódio inteiro de "Sex and the City" enquanto aguardava para embarcar no aeroporto de Zurique numa televisao sem som sem me importar, afinal eu sei todas as falas de todos os episódios de todas as temporadas + filme: confere

Com 3457 diferentes filmes para escolher no servico de entretenimento de bordo da Swissair eu escolhi a sequencia super macho "The September Issue" + "Devil wears Prada" (alias, eu já tinha lido o livro do último. Antes que ele virasse filme.): confere.

Ai gentém, será?!!!! :( 
(Essa fala funciona melhor se voce me imaginar falando isso colocando a mao no queixo e virando o pezinho de lado).

Ok gente, agora sério: que porra de comportamento é esse? Em um ano na Europa, eu tc (ups... teclei) com praticamente metade do continente, sai com todos os países da Uniao Européia (incluindo os novos integrantes do bloco) e nunca escutei essa pergunta. Aliás, minto: escutei sim. De um brasileiro que morava na Alemanha, também com um perfil sem foto de rosto e do tipo "tenho panico de que me encontrem por aqui". De europeus: jamais, never, nie (e olha... europeu consegue ser bem fierce na hora da boiolagem, queridoes... Como eu falei, aquele mundo de cosméticos baratos, H&M e La Roche Posay deixa qualquer um uma diva em 2 tempos!).

Concordo que ninguém é obrigado a sair com um perfil de cara que nao preencha as suas expectativas e interesses (tem gente que gosta de loiro, árabe, negao, asiático...). Mas porra, eu já escutei "Eu odeio afeminado!".Como assim? Por que essa paranóia de dar ou nao dar pinta?! Eu nao consigo acreditar mesmo que exista tanto surfista, lutador de jiu-jitsu e "brother macho que curta uma parada na encolha" no mundo. Sinceramente, a minha experiencia foi a seguinte: as bees mais reprimidas e as mais pintosas sempre sao as latinas. Porque norte-europeu é tao low profile, tao na dele que quase sempre é uma surpresa descobrir que fulano de tal é gay ou nao: isso simplesmente nao é um assunto.

(Ok, eu sei que essa é uma indignação "Porque as coisas nao sao como na Europa!" completamente inócua e que nao vai resolver absolutamente nada. Mas também... tem coisas que se ninguém reclamar, fica por isso mesmo. E uma coisa eu aprendi com os alemaes: sem gente chata reclamando, nada evolui. Nada mesmo. Portanto, eu reaprendo a chegar atrasado em compromissos, pego uma praia para tirar esse branco ACE que atualmente a minha pele se encontra e posso até repensar o meu ódio mortal a pagode/samba e congêneres. Mas dar uma de "Ah, as coisas sao assim mesmo no Brasil..." mais uma vez? No, thanks...). 

P.S,- Última mensagem de mula-sem-cabeça do MSN? "Vc cantava junto com o grupo swing baratinha?". Sem comentários (morar no Brasil é legal, morar no Brasil é legal, morar no Brasil é legal...).

Curtas: Minha alma canta


E como prometido, o blog nao acabou! :) O pequeno recesso acabou sendo necessário: rever família, amigos, distribuir os chocolates e Absoluts comprados pelos duty frees mundo afora, contar para a sua família a versao oficial da sua estadia na Europa ("Mamae, tinha cada museu legal em Paris!"), contar para os seus amigos a versao real da sua estadia na Europa ("Gentém, quase completei o tabuleiro de War na Europa: só ficou faltando Vaticano e Liechtenstein, acreditam?!"). E ao mesmo tempo, ter que processar que eu estou de volta ao Rio de Janeiro. '

E a sensacao do momento? Old life, new me. Complicado? Eu sei, até para mim tá sendo também...

Choque em estar de volta? Sinceramente, nem tanto. Eu tenho a surreal impressao de que eu nao saí daqui por nem um dia: tudo exatamente igual do jeito que eu deixei quando fui embora. Tudo exatamente igual ao que eu me lembrava. Bem, na verdade, nao: o Pao de Açúcar é ainda mais lindo do que eu conseguia lembrar.

Mas ao mesmo tempo, algo mudou. Aqui em mim. Além das minhas roupas H&M e da minha pele excessivamente pálida para padrões cariocas (já escutei 350 vezes a expressao de choque "Como voce está pálido!". Caralho: morei no Norte da Europa por um ano. O que eles esperavam? Marquinha de sungao?!), eu me pego observando coisas que antigamente eu sequer pensava ou enxergava no meu dia-a-dia. Ir ao shopping, andar pela rua é um exercício de observacao, de ficar surpreso com as coisas que eu já conhecia, mas que de alguma forma tinha esquecido. De comparacao com a Europa, mas nao num sentido de "Na Europa isso era melhor", mas no simples "Na Europa era tao diferente daqui...".

Bem, mais primeiras impressoes de Brasil virao num post um pouco mais completo, abordando somente esse assunto. Fiquem tranquilos: veneno e críticas bem ácidas ainda tem bastante por aqui. :D

E o blog? Tentei dar uma leve repaginada, tirar um pouco da essencia européia (ah, como doeu tirar a foto de Hamburgo do template do blog! Fiz printscreen para guardar de recordacao...), colocar um pouco de alma carioca na coisa. Os posts de viagem continuam (afinal, se eu nao deixar tudo por escrito, as histórias e memórias se perdem...), mas acompanhados de posts sobre as impressoes de estar de volta a Cidade Maravilhosa e falando do meu dia-a-dia de carioca, estudante universitário, futuro economista. Linha que irei seguir, temas que serao abordados? Nao sei meeeeesmo. Afinal, os outros blogayros (Chato no ar, Tony Goes, Don Diego, Introspective) escrevem tao bem que fica difícil pensar numa forma nova de abordar os assuntos que estao por aí... Mas pensando bem, o blog é um exercício de tentar colocar em palavras uma visao de mundo. E como esse é um momento de readaptacao, de intenso aprendizado, acho importante deixar registrado tudo o que eu penso, tudo o que eu sinto. Quem sabe no futuro isso acaba me ajudando para alguma coisa, nao é?

Portanto, fiquem tranquilos: a partir de agora, o blog voltou de vez. :)

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Heute: Schweiz. Suisse. Svizzera. Morgen: Brasilien


Durante a maior parte em que eu mantive esse blog aqui na Europa, eu sempre pensei como seria o último post in Europa. Pensei em vários temas, várias formas de abordagem. Escrevi rascunhos, tirei fotografias... E quando a hora chega, que decepção: crise criativa. Branco completo. Nichts. Nao consigo pensar em nada para escrever.

Para ser sincero, eu nao consigo muito acreditar que a hora de voltar chegou. Sabe, do tipo negacao da verdade mesmo? Afinal, agora estou em Zurique, cercado da mais pura e clássica imagem invernal alpina. Acabei de voltar do parque perto de onde estou, onde brincamos de trenó de neve (e caí do trenó, claro), fiquei todo cheio de neve, tremi de frio com a neve fofa em contato com as minhas maos. Como posso acreditar que em 24 horas estarei desembarcando em Guarulhos, diretamente para o verao do hemisfério sul? E um pouco depois, Rio de Janeiro: praias, sol, mar. Nao consigo acreditar. Nao consigo acreditar mesmo.

E para ser sincero, a negação nao vem da falta de deixar o "mundo capitalista europeu". A gente aprende a viver sem as pecas maravilhosas e baratas de H&M, aprende a viajar sem a maravilhosa Ryanair oferecendo passagem para aquele destino dos sonhos (Veneza, Paris, Salzburgo) por alguns trocados de euro, aprende a cuidar da pele sem os maravilhosos cosméticos europeus por precos justos (au revoir, La Roche Posay... Agora é Natura, e olhe lá!).

O foda é mesmo deixar para trás tudo o que eu vivi aqui... Lembrancas: Ver o Big Ben às 2.30h no Shuttle Bus vindo de Stansted. As primeiras flores surgindo junto com os raios de sol que marcam o final do inverno. As festas incríveis com amigos pela Reeperbahn de Hamburgo. Sabores: Messmör (da Fjällbrynt, bien sur!) na Suécia. Currywurst na Hauptbahnhof de Hamburgo. Rivella a qualquer hora em Zurique. Lugares: Copenhague na primavera e as primeiras experiencias nao-alemas na Europa. Estocolmo no verao e a certeza que existe outros tipos de veroes que podem ser tao incríveis como o do Rio. Lisboa no outono e a felicidade de reencontrar um pouco de casa na Europa. E Hamburgo... Simplesmente Hamburgo: o ano inteiro. E os amigos. (É melhor nem comecar a citar nomes, porque lágrimas virao, e ai fudeu!). Amigos, todos aqueles para os quais em algum momento eu olhei para eles no fundo dos olhos e pensei "Eu tinha mesmo que vir de tao longe para conhecer essa pessoa!".

Agora chegou a hora de fechar as malas pela última vez e simplesmente embarcar. Voltar para o Brasil, voltar para a vida que eu deixei ai esperando por mim quando embarquei para a Europa. Voltar para a vida less glamorous (para nós brasileiros, néam: para os meus amigos europeus, eu estou praticamente voltando para o paraíso do verao eterno, sol, praia e mar...) e muito mais próxima da realidade de cada um de voces que leem esse blog. Agora os desafios serao de readaptacao ao meu país de origem, de reaprender tudo o que eu tive que desaprender para me integrar na Europa. As surpresas serao em redescobrir tudo aquilo que eu já conhecia, mas acabei esquecendo depois de tanta coisa nova que eu vivi nesses últimos 11 meses.

Como eu já tinha comentado, o blog continua. Ainda tem muita viagem que eu fiz aqui na Europa cujas lembrancas eu quero deixar por escrito (senao elas acabam se perdendo e se perdendo cada vez mais com o tempo). Ainda tem a fase de readaptacao no Brasil que eu acho que vai ser interessante registrar também por escrito, para entender melhor futuramente como toda essa loucura de ir morar fora se dá. E ainda tem as minhas impressoes de mundo que eu aprendi a deixar registrado por escrito, e a fazer isso tudo com prazer. Algumas pequenas mudancas virao, claro, para dar um "sentido" para o blog, mas no geral a essencia será mantida.

Afinal, de um lado ou de outro do Atlantico, Fernando continua tentando se encontrar. :)

Entao... até o Brasil! E obrigado por terem participado dessa viagem comigo. :D

Heute: Schweiz. Suisse. Svizzera. Morgen: Brasilien

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Letzte Haltestelle: Zürich


E o final da viagem chegou: já nao estou mais na Alemanha, mas em Zurique. Que basicamente é a mesmíssima coisa: todo mundo falando deutsch, as cadeias de lojas que existem na Alemanha, os mesmos canais de TV que existem na Alemanha, e a mesma eficiencia que existe na Alemanha. O voo foi tao curto, mas tao curto (45 minutos) que mal deu tempo para chorar, tentar ficar conformado de ir embora e da cara desinchar. Foda. E tudo isso com o passageiro do lado me olhando como se eu fosse um louco (corta para cena de mim, chorando e murmurando "Naaaao.... Naooo... Naooo..." na hora em que o aviao levantou voo. E eu to meio resfriado. Ou seja, já deu para imaginar como essa foi uma cena bonita de se ver... Self nojinho...).

Mas talvez tenha sido melhor assim. Por etapas, pouco a pouco, me despedindo da Europa. Adorei chegar no guiche das Ferrovias Suicas, e olhar para a cara de choque da atendente na hora em que eu pedi o bilhete do trem (há, toma!): auf Deutsch! Bom poder utilizar o idioma alemao por alguns dias mais...

Enfim, nao dá para escrever muito agora: amigos para conhecer, e Zurique (a última cidade!) para explorar! Mesmo assim, quis escrever pelo menos alguma coisa para deixar registado desse momento. E confessar uma coisa: dói. Dói muito. Dói demais ver amigos no aeroporto dizendo adeus e nao ter certeza de quando voce irá encontrar essas pessoas mais uma vez: pessoas que voce acostumou por um ano a ver quase todo dia, que compartilharam momentos bons e ruins com voce, e que aprenderam a reconhecer o que voce sente somente olhando para a sua cara. Dói ter que cortar os vínculos com toda uma vida que voce construiu por um ano. E ver tudo isso resumido e empacotado em duas malas (que somente podem ter no máximo 32kg!). Que serao basicamente o que voce leva daqui: junto com as memórias, as fotografias, e as saudades que nunca irao acabar.

A despedida oficial de Hamburgo eu quero fazer num post especial (afinal, eu amo um drama... heeheh). Acho que é importante fazer um balanco final - para yo mesmo - e entender como esses últimos 11 meses mudaram o Fernando. A escrita é uma forma de auto-analise que eu tenho, e que me ajuda muito a ter vários insights que jamais tinham passado pela minha cabeca.

Enfim, e o que mais dizer? Que eu estou com a cara completamente inchada, sensível como o caralho (do tipo: tocou musiquinha de piano na TV, já vem lágrima, já me emociono), exausto depois de ter que arrastar dois trambolhos de 32kg pelo sistema de trens urbanos de Zurique, puto porque a Suica é cara pra caraio (sério: muita revolta - paguei quase R$16 para andar 15 minutos de trem. E a merda do cobrador nem passou pela trem! Porra: to voltando pro Brasil - e como fica a minha necessaire La Roche Posay?!) e triste quando lembro dos meus amigos que ficaram em Hamburgo.

Mas também feliz de que daqui a pouco estarei voltando para casa. Eu sei: vai ser uma merda, eu vou odiar a desorganizacao, o caos, o calor, o subdesenvolvimento, a superficialidade, a falta de perspectiva. Mas mesmo assim... eu estou com uma saudade danada do Rio. Saudade de praia, saudade de sol, saudade de mar, saudade de falar portugues, saudade de comer feijao com bife e batata frita. Saudade de me sentir... mais um, em uma nacao de 190 milhoes. Afinal, Tom Jobim nao escreveu o Samba do Aviao a toa: só quem mora fora do Rio sabe a saudade que essa cidade provoca...

E feliz de contar com esse blog para poder expressar toda essa montanha de sentimentos e impressoes confusas que vem e passam pela minha cabeca. E de ter voces, caros leitores, que acompanham e comentam tudo o que está escrito aqui.

Ok, das ist alles für heute! :) Schöne Abend. E até logo, Brasil!

P.S.- E para a despedida ideal do frio e inverno europeus, nada melhor do que... snowboard na neve! :) Rá: Vancouver 2010, here I come!!! :D (Enfim, se eu conseguir deslizar por 5s sem quebrar um braco ou uma perna, já me dou por muito do satisfeito...).
P.S.2- Gente, voces também nao acham "Suica" muito digno, muito rykah? Segundo pesquisas, Zurique é a cidade com a melhor qualidade de vida das Zoropa. Ainda nao sei, porque vi muito pouco da cidade. Mas amo desenvolvimento (Ah... Estocolmo...*suspiros), voces sabem muito disso. Veremos...
P.S.3- Estou praticamente falido - sem dinheiro para comprar até uma barra de chocolate. Mas claro, como o meu lema é decadence avec elegance, a minha parada final na Europa nao podia ser uma coisa simples, sabe... Indo comer um fondue daqui a pouco. :) Hmmmm....

domingo, 3 de janeiro de 2010

Tour Leste Europeu - de Praga a Budapeste


13.30h – Saindo de Praga meio contrariado: a cidade é linda, é barroca, é compacta. Apesar da mágoa de cabloca recém adquirida dos tchecos (feladaputas), a cidade ainda tinha muito a ser explorada, o nosso hostel era perfeito, comfortável e central, e Budapeste... sinceramente me parece menor em comparacao ao que Praga oferece. Mas claro: os heteros comandam a viagem, e provavelmente atraidos pela imagem de camponesas dos Urais em roupas minimas (como se vestiam as hungaras do Erasmus), eles desenvolveram um interesse incompreensível pela capital húngara. Saco.

15.10h – O tempo na auto-estrada é péssimo, com uma neblina espessa cobrindo tudo, e todo mundo ficando com fome porque saimos justamente na hora do almoco de Praga (porque para mim também é um grande mistério). Paramos num posto de gasolina na auto-estrada em busca de algo comestível, e comeca o drama. Drama porque? O que voce pediria no menu abaixo?

E nao, a atendente nao falava ingles. Nem alemao. E o meu russo é basico demais para menus tao complexos. E só podia confiar no meu guia de conversacao Europa para conseguir entender o menu, para daí partir para a calculadora e tentar ver se os precos significavam caro ou barato em euros, e poder pedir algo. Saudades de saladas e refeicoes leves: só tinha o menu obrigatório de salsichoes, batata cozida, batata frita, batata souté, batata caralho a quatro e uma galinha estranha. Desisto e parto para as coisas prontas: menor possibilidade de erro.
15.30h – Bate a culpa do viajante: Doritos e Coca Light eu posso comprar em qualquer Oasis furreco de qualquer estrada no Brasil. Estou viajando, preciso experimentar coisas novas, diferentes: quem sabe nao encontro uma coisa super legal e que só tenha na República Tcheca?

Opto entao por um sanduíche gelado, duas barras de um biscoito meio wafer recheado chamado Vlnky (nao parece uma palavra digitada por acidente no computador?) e Kofola, um refrigerante parecido com Coca-Cola, com a embalagem totalmente escrita em tcheco e esvolaco (ah, que bom: porque meu eslovaco é MUITO melhor do que o meu tcheco, sabe...).
15.35h – Me fudi: Kofola é... fola. É a pior coisa que eu tomei depois de Mineirinho e Convencao de Abacaxi - e olha que eu sou trash enough para sabores estranhos de refrigerante, do tipo que acha Fanta Uva, Cherry Coke e Coke Vanilla deliciosos. É ruim demais: tomo um gole e já enjoo – e a embalagem ainda é de um litro. :( Pelo menos o sanduíche estava aceitável e Vlnky era muito gostoso. God save Vlnky. E Kofola que se fola-se.
17.23h – Legal: Bratislava! A famosa Bratislava... (Para quem perguntar: "Mas famosa por que?", pode ter certeza: se voce tá lendo esse blog, Bratislava já fez MUITO parte da sua vida... ;) Ah Bratislava...).
Querem ver o que eu vi de Bratislava? Pois entao:

Pois é: diz que nao é igualzinho a Washington Luis na chegada do Rio, ou de Guarulhos chegando em SP pela Dutra? Saco.




18.02h – Our Lady of Gaga, DANKE! Mac Donalds!!!! Finalmente entender um menu (queridaum, tenta pedir um frango frito sem maionese em húngaro e ve se depois voce nao sai correndo de felicidade para o primeiro Mac Donalds que voce encontra), e principalmente: NAO PRECISAR BEBER MAIS KOFOLA (bebida dos infernos – como essa merda conseguiu ainda sobreviver a mudanca para o capitalismo?!).
18.05h – Gente, Hungria é muito moderna: INTERNET WIFI no Mac’s! Nem na Alemanha tem isso, táh? Perfeito: já posso atualizar o meu perfil para “Localidade: Budapeste”. Enfim, já saí com um tcheco (decepcionante), um húngaro (good) e dois poloneses (very very good) no Rio de Janeiro, mas caramba... to na Europa Oriental, néam. Preciso estimular as duas principais indústrias locais: vodka barata e homem com cara de campones dos Urais que mora MUUUUUUUUUITO longe. ;)

18.10h – Rs Chocolate quente em húngaro é... Forró Csoki! Mas perai: Fudeu! O menu é todo em húngaro! E húngaro é aquela coisa: junto com o finlandes faz parte do grupo fino-ugrico de idiomas, que em outras palavras significa “ninguém sabe que porra é essa, de onde veio e com que merda parece”. E hamburguer e cheeseburguer nao sao escritos assim em húngaro nao. Carajos... Vamos lá, Fernando: voce já enfrentou trocentas chopadas de Economia, separou briga de pitboy em churrasco de turma de faculdade. Joga o cachecol para trás, e carón!

18.20h – Ai... meio que tecnicamente me fudi. A atendente nao falava nada de ingles (mas pelo menos foi simpática: aprendam tchecos mal-educados!). Pedi algo que parecia um cheeseburguer com Coca-Cola, fritas e alguma coisa doce que eu nao faco a menor idéia do que seja. Recebi um Mac Lanche Feliz. Mico: pessoas me olhando na fila com cara de “Quem é esse louco?”. Mantive o carón e fui para a minha cadeirinha - a Coca já nao é Kofola, portanto já to no lucro.
18.45h – Perfil bombando com mensagens de húngaros. Gostei (tah, 95% só barango. Mas já é alguma coisa, néam?). Meus amigos heteros chocados com as fotos que alguns individuos me enviaram, e comecaram com aquela historinha “gays fazem sexo sem conexao real com a pessoa”. Refresquei na memória deles as vezes que eles visitaram a Reeperbahn em Hamburgo e a linda história e conexao suuuper intensa que eles tiveram com cada uma das prostitutas da regiao. Se calaram: saber dos podres dos amigos heteros pode ser taaao útil. :D
19.30h – Viajar de noite é uma das atividades mais sacais do mundo. Tá tudo escuro, frio, e com muita névoa. Subida para Petropólis, estradinha nos Pirineus e trilha para a montanha dos Gorilas em Uganda: tudo parece a mesma coisa nesse clima. E os dois casais estao de conchinha. Peitica de solteiro é fueda.
19.55h – Budapeste! Já deu para sacar que as cidades da Europa Oriental tem um padrao: sopinha de letras (batida no liquidificador com muita cachaca) nos nomes das ruas, bondinho dos tempos comunistas repintado em cor bem cafoninha, povinho emburrado mas até que bonitinho (mas tudo vestido no melhor estilo russo de vestir, o famoso Piranha-Versace: muita fenda, muito decote, muito brilho. E nada combinando com nada.), e cidades absolutamente deslumbrantes a margem de algum rio de nome dificil qualquer.
20.05h – Apesar de que Budapeste tem um plus a mais: essa porra de idioma é estranho pra caralho. To tentando ler as coisas e advinhar o que é... e nada. Pelo menos tcheco parecia com russo (lembrem do momento eu-fui-um-CDF do post passado: eu fiz um curso de russo de verao. Melhor custo-beneficio da minha vida: sai com tanto russo que ficava chocado porque eu sabia pronunciar duas ou tres coisas na lingua deles... Super recomendo: satisfacao garantidíssima. :D).

20.15h – Perdidos em Budapeste. E juro: estamos num lugar muito, mas muito favela. O lugar mais fudido que eu já estive na Europa (há que eu vou meter meu pé em subúrbio de cidade européia. Eu quero é manter a fantasia do welfare state europeu. Se gostasse de pobreza tinha ido estudar sociologia. Economista mau falando. Hmpf!). A rua mal tinha asfalto, e o ponto de onibus (reforco no onibus – na Europa, se a sua casa nao fica perto de uma estacao de metro, trem ou bonde elétrico... voce nao mora, voce se esconde.) mais próximo ficou umas 5 ruas pra trás.
Comentário americano-sem-nocao: “Cool... Tem um jardim na frente, dá para brincar um pouco, né?”.
Tá 2°C lá fora. Negativos.
Enquete do blog: enforco, mando o Mike Tyson fazer um fist fucking com os dois bracos ou... mando de volta para os EUA mesmo?
20.20h – Existem 3 ruas diferentes em Budapeste com o mesmo nome da rua que procuramos. Senhor é pai, o senhor é maior. Aquele buarco nao é o do nosso hostel!  Valeu por me tirar dessa!
20.40h – Ainda perdidos em Budapeste. Porque homem hetero tem essa mania de nunca parar para pedir informacao?
Mas... ninguém fala húngaro aqui. Enfim, quero arranjar motivo para reclamar. Nao aguento mais ficar sentado. :( Nao aguento mais ouvir o CD do David Ghetta over and over (parece com a minha imagem de pior pesadelo possível: eternamente numa boate tipo Mariuzinn. Com garotas usando Mercatto e achando que eu estou dando em cima delas quando esbarro nelas sem querer.). Nao aguento mais conversa de menino hetero tarado falando que quer ver as putas húngaras. :( Deeeeeeus: manda gramour para mim, manda gayness pra mim! Se eu ficar nesse carro mais um segundo eu vou acabar virando... hetero! Naaao!
21:50h – Quase uma hora e meio perdidos em Budapeste. Existem 3 ruas na cidade com o mesmo nome da rua que procuramos. Parece castigo.
22h – Legal. Parece que achamos finalmente o lugar do nosso hostel, e estamos seguindo para lá. Dizia no site “a 10 minutos do Centro”. :(
22.10h – Já passaram os 10 minutos. E estamos dentro de um parque florestal gigante que parece esta nos limtes de Budapeste.
22.15h- Continuamos no parque.
22.25h – Continuamos no parque. Porra de parque gigante: isso é o que? A floresta amazonica da Hungria, caralho? CADE A MERDA DO HOSTEL?

22.30h – AH NAAAAO! O hostel nao fica em Budapeste, mas Budakeszi!

Tour Leste Europeu - Praga


Depois de uma viagem que acabou durando mais de 10 horas (quando o normal seria por volta de 6 ou 7), finalmente chegamos a Praga. Ok, congelando de frio porque a temperatura na Europa resolveu desabar de novo, completamente exaustos da longa viagem, esfomeados (10 horas de balinha, biscoitinho e pao com queijo camembert frances nao sustenta ninguém nao! Ah... Saudades de um bom prato de feijao com um bifao...), mas pelo menos chegamos.

Mas como o fundo do poco tem porao, logo percebemos que tinhamos um pequeno problema: encontrar o hostel onde iriamos passar a noite. Tarefa 1: encontrar um cybercafé, com algum atendente que falasse um ingles funcional. Acabamos (depois de driblar uns cinco vendedores de maconha e haxixe na principal rua de Praga) encontrando um cyber dentro de uma loja de bronzeamento artificial (?) que funcionava em cima de uma tabacaria especializada em charutos cubanos e vodca com blend de cannabis (?!). Enquanto os garotos checavam o Facebook para pegar o endereco, eu me sentei numa das cadeiras (cafonérrimas) de tipo um bar de verao da loja de bronzeamento, peguei um dos folhetos e fiquei vendo como é triste a vida de quem nao tem sol para se bronzear. Nisso, o atendente (que nao tinha respondido o meu "Boa noite", em tcheco) vira e pergunta "What you will drink?", gritando lá do balcao. Me virei, olhei para o menu na minha frente, pensei em algo, mas lembrei que nao tinha uma única moeda em coroas. Respondo "Nothing. I am sorry, but I still have only euros here, and I am waiting for my friends.". O cara vira e me manda um "Entao voce nao pode ficar aqui. Isso daqui nao é uma sala de espera.". Pronto: peguei implicancia com os tchecos. Porra, tá uma temperatura de 2°C lá fora, com vento, os meus amigos estao somente checando um site, eu sentei numa cadeira de um bar as moscas, sou turista, venho gastar a merda do meu dinheiro naquela bosta de lugar para o cara me tratar assim? Levantei, falei com os amigos que ia esperar lá fora, e na saída olhei bem no olho do cara e falei um "Vai tomar no cú!" em bom portugues. ;D Sim, voce sai do subúrbio, mas o subúrbio nao sai de voce: principalmente quando estou gastando em coroas tchecas (o que inclui nisso o dinheiro da merda da comissao). Hmpf!

Mais um outro pequeno drama para conseguir dirigir em Praga (fomos parados pela Polícia Tcheca: nao, nada de policial sarado gostosao que te leva pro carro e te dá uns pegas. Somente um senhor de 40 anos, falando um ingles muito do básico, que foi razoavelmente simpático com a gente.), achar a rua do hostel (porque em tcheco todas as ruas parecem ser Kkeheécoesw - idioma bonito, hein...), e finalmente... livres! Ficamos no Hostel Emma, numa regiao bem central de Praga (que é uma cidade razoavelmente compacta, ou seja: dá para fazer tudo a pé), pagamos somente 7€ pela noite, com um quarto bem decente e bem comfortável - recomendo.

Durante esse estresse de achar hostel, deixar mala, estacionar a van... surgiu uma grata e inesperada surpresa: a neve. :) Em poucos minutos, as ruas de Praga ficaram completamente cobertas por uma camada branca, o que claro, já foi a deixa para algum dos garotos já fazer uma bola e mandar na cara do outro, iniciando uma guerra de bolas de neve que deve ter durado uns 20 minutos. No final, todo mundo tava exausto, tremendo de frio, molhado (afinal, neve nada mais é do que... floquinho de água de chuva), mas tendo se divertido muito. E as ruas de Praga, ainda mais mágicas e especiais do que elas já parecem sem neve...

Depois disso, passeamos um pouco pelo centro histórico da cidade (voces sabem, cidade na Europa é sempre o mesmo esquema: praca principal, estacao principal, praca da Opera, praca do Museu Nacional...), vimos o mercado de Natal da cidade. E enquanto tudo isso, nevava, nevava, nevava... Ok, lindo: nao importa o quanto eu veja de neve, eu sempre fico feito crianca vendo aqueles floquinhos brancos cairem do céu, hipinotizado.

O problema disso? Roupa de inverno tipo estacao de esqui nao rola em ambiente urbano aqui na Europa (na verdade rola em um lugar: Alemanha. Eu adoro os meus queridos alemaes, mas eu preciso concordar em uma coisa: em estilo de se vestir sem nocao, alemao e americano sao experts... Tadinhos...), porque a roupa que voce normalmente usa no dia-a-dia resiste o caminho "de um lugar quente para outro lugar quente". Mas turismo exige horas ao ar livre, e aí fudeu: umidade entra pelo sapato congelando o seu pé, a roupa inteira fica úmida e molhada, a orelha parece que se dobrar, cai um pedaco. E nesse momento, a alternativa é correr para o lugar quente mais próximo, e fazer a melhor coisa que se tem para fazer no inverno: comer. :D

Comida na Europa Oriental é aquela coisa: varia um ingrediente ou outro, e sempre é um goulash para cá, uma vitela no molho nao sei o que para lá - o que nao quer dizer que seja excelente, e que claro que vale a pena experimentar. E claro, cervejas - pelo menos as que eu tomei foram muito boas, mas também nada de outro mundo comparado ao que eu já tomei na Alemanha (#germanrecalquefeelings).

Depois do jantar no restaurante típico, saímos para a rua, e os meninos acabaram topando com algumas piriguetes tchecas pelo caminho. Conversa chata vai, conversa chata vem (hetero enrooooola... Dá um sono...), as tchecas indicam para a gente um clube barato (afinal ninguém estava com muitas coroas tchecas) e vamos todos juntos - depois de 26 dias viajando sozinho pela Europa, até Mariuzinn eu topo para nao ir desacompanhado. Quando eu entramos, a grata surpresa: o clube praticamente era uma colonia de férias - só tinha pirralho de 18, 19 anos de idade. E a foto ai de cima? O clube tinha uma professional bitch que ficava dancando em cima de uma mesa, enfiada num shortinho "É o Tchan", botinha de couro, fazendo caras e bocas ao som das músicas, e divertindo o pessoal com essas brincadeiras suuuuuper de bom gosto (ah, nao fode: ficar lambendo chantilly no corpo de uma outra pessoa?! Ui, suuuuper moderno isso, néam? Ah, por favor, cafonice no ÚRTIMO isso... Depois nao sabem porque tem fama de piranha na Europa Ocidental...).
Aliás, adendo importante:  eu sei que vai vir na cabecinha pervertida de voces (que é exatamente igual a minha rs) a pergunta "Mas nao tinha nenhum tcheco gostosinho que valesse a pena gastar um tempo nao?". A minha resposta: sinceramente, nao. Os tchecos até me parecem um povo bonito: de corpo e de rosto. Mas o gosto para moda é sofrível: o estilo rapper americano parece ser o "da hora" para os meninos daqui, e as garotas tem um estilinho tao piriguete cheap para se vestir que dá pena de ver... E pelo menos, para mim, o estilo de se vestir é tao importante quanto o físico do cara... Portanto, nao me animei muito por terras tchecas nao...

Acordamos no dia seguinte já meio tarde, empacotamos as coisas, levamos tudo para a van (afinal depois do horário de almoco já partiriamos para Putapeste... Ups, Budapeste). E fomos conhecer o que seria possivel conhecer de Praga em uma manha: a praca da cidade velha (com o mercado de Natal ainda montado) e o incrível prédio da Igreja Týn dominando a paisagem...


As margens do Rio Vltava, com os jardins completamente ainda cobertos pela neve da noite anterior - o que deixava Praga, com os famosos prédios em pedra escura, ainda mais diferente do que tudo que eu já tinha visto na minha vida.

E a famosa Karlův most (Ponte Carlos), com as estátuas de pedra e a lindíssima vista do Rio Vltava (nomezinho ingrato esse hein... tenho que ficar toda hora checando para ver se eu escrevi direito... Como diz um amigo tuga, "Que piça!"...). A ponte realmente é incrível como parece ser nas fotos, com artistas de ruas de todos os tipos imagináveis, músicos se apresentando (o que eu sempre acho que dá um toque todo especial a esses momumentos na Europa - tem coisa mais legal do que uma boa trilha sonora enquanto voce admira algo tao bonito?).

Enfim, foi uma visita realmente rápida demais a cidade: ainda tínhamos quase 7 horas de estrada antes de chegar a Budapeste, a cidade onde passariamos mais tempo. Praga parece ser uma cidade ideal para ser explorada a fundo, e eu pessoalmente me encantei com as ruelas estreitas e o clima quase místico que aquela cidade tem. Acabei indo embora com a sensacao de que preciso voltar a essa cidade, e explora-la bem mais a fundo (como aconteceu com Roma, Londres, Lisboa...).

Mas algumas bees devem estar pensando "E os tchecos?! E os tchecos?!". Como eu falei, sinceramente, nao vi nada do tipo Pavel Novotny pelas ruas, nem pelos perfis que eu tenho para digamos... aumentar as minhas possibilidades de contato em cidades européias. Justica seja feita, com o frio que tem feito na Europa, as pessoas andam tao encasacadas que fica impossível ter uma nocao além do rosto da pessoa (e do gosto - ou falta de gosto, no caso dos tchecos - para se vestir). A única movimentacao gay que eu vi pela cidade foi um casal andando de maos dadas pela praca da Cidade Velha, apesar de nessa viagem, o meu intuito foi realmente me divertir (e ficar encalhado) com os meus amigos heteros - portanto programacoes gays nem rolaram.

Mas para nao falar que Praga é uma cidade estéril demais nesse aspecto, fica a mensagem de uma camiseta de uma loja de souvenir. :D

From Prague with Love, Fer. :D

sábado, 2 de janeiro de 2010

Tour Leste Europeu - de Hamburgo a Praga


The very last trip pela Europa! Bem, na verdade, se eu for contar a escala em Zurique em direcao a SP (escala que vai durar 4 dias, acho), entao nao é tecnicamente a última viagem dessa “viagem”. Mas é a última com início e fim em Hamburgo, o que me provoca uma certa nostalgia. Enfim, como eu já disse antes, essas coisas pensarei no voo da Swissair em direcao a SP em Janeiro, portanto bora aproveitar!

Só para resumir , o Tour Leste Europeu é uma viagem de carro de final de ano com duracao de 7 dias, comecando no dia 28 de Dezembro e terminando no dia 4 de Janeiro. Roteiro inicial: Praga, Bratislava, Budapeste, Cracóvia, Breslau e Berlim. Tudo isso numa van de 8 lugares alugada na Alemanha (e ilegamente conduzida para a Europa Oriental – as locadoras alemas se recusam a autorizar viagens para a Europa Oriental pelas “altas” taxas de furto de carros por aqui). Hospedagem nos albergues mais baratos que encontramos, todo mundo praticamente quebrado financeiramente (o que significa muito supermercado, muito sanduiche e nada de “deliciosa carne de codeiro ao molho Vatlava” – isso vai ter que ficar para a minha próxima viagem para a Europa enquanto economista-viado-bem-sucedido). E os passageiros dessa “Mystery Machine”: moi; Hugo e Joao (irmaos portugueses: ambos incrivelmente gatos, sarados e heteros. E com o mesmo pavio curto e genio turrao tao comum dos nossos patricios); Francisco e Marta (americano-mexicano e espanhola, amigos do Erasmus de Hamburgo, casal do tipo “Entre tapas e beijos”); David (americano do Erasmus. Bonito. Mas de Montana, o que equals calca jeans baggy e conhecimentos de geografia demasiadamente escassos. Mas um fofo.), Diana (outra amiga do Erasmus) e Ruben (outro mexicano-americano do Erasmus).

A viagem de Ano-Novo já comecou nao muito como o planejado: primeiro, a nossa amiga espanhola Diana teve que cancelar a viagem porque tinha uma reuniao em Hamburgo no dia 30 (feladaputas, nao?  Só escutei ela gritando tanto “Joder, Joder, Joder” no telefone, indignada por nao poder ir). Depois, o Ruben pegou uma doenca meio esquisita depois da viagem para o Marrocos dele e achou melhor nao se enfiar numa van por 7 dias nessa situacao (afinal, os virus e bactérias do meu resfriado e o da Marta sao territorialistas. Aquela van tá praticamente uma cultura de laboratorio ambulante). Dois lugares vazios, oferecemos para quem quisesse, e quem aceitou foi o Ryan (um californiano de origem asiática cuja a melhor descricao é que ele é exatamente o Pikachu transformado em pessoa. E com o cérebro exatamente na média de um americano. Já sentiu o drama, hein? Coragem...). Com a namorada dele (um amor de pessoa, btw.).


Drama dois: o planejado seria sair no dia 28 de noite, e pela primeira vez na vida, Fernando fechou uma mala no dia anterior: completinha e perfeita. Claro, Murphy nao é pai, é padrasto e a van nao estava pronta no dia 28 (cara de choque do meu amigo alemao quando soube disso, acompanhada de “Mas é uma locadora alema meeeesmo?”), portanto só pudemos viajar no dia 29, pela manha.

O dia 29 amanheceu o completo oposto do dia 28: o que tinha sido um dia de sol e céu límpissimo amanheceu muito nublado, frio, e querendo (mais ainda nao) nevar. Neve é aquela coisa: primeiros 5 minutos “Ai, que lindo, vamos fazer um bonequinho de neve?”, depois disso voce percebe que aquilo é basicamente... agua congelada em flocos (ui... mistérios da metereologia...), o que significa que logo voce estará completamente molhado e sentindo MUITO frio se voce nao estiver vestindo uma roupa térmica ou de esquiar. O que claro, eu jamais utilizei e jamais utilizarei em cidades na Europa: roupa térmica é para estacao de esqui, turista americano sem nocao e brasileiro errando a direcao da Antártida. Cidade na Europa é sobretudo de material mais quente: visual bonequinho Michelin meets Amyr Klink never; muito frio até pode ser (se voce nao souber se vestir direito), barango JAMAIS!

Rezando para nao nevar (se neva demais, as auto-estradas nao sao mais sem limite de velocidade, podem ser até fechadas, e o uso de correntes – que nós nao tínhamos – nas rodas do carro seria obrigatório), partimos de Hamburgo. Olhei para as pontes que cruzam o rio Elba, para a auto-estrada que liga Hamburgo ao Sul da Alemanha e lembrei que essa era a última vez (em muito tempo) que irei ver isso tudo de novo.
Enfim, viagem de carro é basicamente sempre a mesma coisa: horas sentado numa posicao desconfortável e nao conseguindo dormir porque a merda do apoio de cabeca dos carros foi planejado de uma forma que a sua nuca fica voando sem apoio nenhum (alguém me explica porque isso?!); CD’s tocando over and over and over (eu tenho vontade de chorar só de escutar qualquer música do David Guetta – é fechar o olho e vir “Damn Bitch... Sexy Bitch...” na cabeca. Traumático); um feladaputa que me tira um Cheetos (sim, isso existe na Europa também) da mochila e empesteia o carro inteiro com aquele fudum de vomito de hiena com gastrite.

Depois de umas 4 horas de viagem, claro, a fome bateu, e como aqui na Europa “beira de estrada” é Mac Donalds, Burger King ou restaurante cobrando uma fortuna por qualquer besteirinha, decidimos sair da auto-estrada e irmos para um supermercado em uma cidadezinha alema perdida qualquer. Paramos no famoso Lidl, o supermercado dos fudidos aqui na Alemanha, onde tudo é incrivelmente barato e, para a nossa surpresa, incrivelmente bom.

Drama de viajar com heteros #1: os caras queriam comprar fogos de artifício. Claro, uma idéia maravilhosa: cruzar 3 fronteiras, num carro alugado conduzido ilegalmente para a Europa Oriental, com fogos de artificio na mala, sem saber se poderiamos sequer utilizar esses fogos em Budapeste. Eu tava de mau humor, eu tava sentado numa cadeira por quase 4 horas, eu estava com fome, eu tinha dormido mal para caramba na noite anterior: eu só olhei para a cara do Francisco e disse “Nao. Eu nao entro no carro com essa merda.”. Funcionou. :D

De volta a auto-estrada, mas horas e horas de paisagens campestres sem fim, nao conseguir encontrar uma posicao ideal para conseguir tirar um cochilo, David Guetta tocando sem parar no rádio e aquela porra de Cheetos que caiu atrás do banco do carro ainda empesteando o ambiente. Mas a paisagem do lado de fora tinha mudado levemente: enquanto na Alemanha Ocidental as paisagens campestres sao mais “vaquinhas pastando felizes num campo florido”, na Alemanha Oriental a paisagem é mais “industrial”, como na foto acima.
E ai comecou o drama: alguém sugeriu passar por Dresden batido e dirigir o mais rápido possível para chegar em Praga o mais cedo que desse. Dresden passou, e sacamos que o carro nao tinha gasolina suficiente, nem a auto-estrada indicava o posto de gasolina mais próximo. Ai que cometemos o pior erro de todos: entrar em uma estrada secundária alema para procurar um posto de gasolina.

Comeca a sequencia interminável de estradinha pequena, curva para lá, curva para cá... e nenhum posto de gasolina.  E nenhuma placa indicando o posto de gasolina mais próximo. E nenhuma pessoa na rua para poder parar e perguntar (afinal, tá bombando nos 2°C lá fora, néam. Negativos.). Medo. Panico. Tamos fudidos.

Depois de uns 5km, as primeiras almas vivas que encontramos foi um grupo de pirralhos brincando com uns blocos de gelo perto de um um pequeno corrego que corria as margens da estrada (claro, idéia super legal: -2°C, e brincar com um bloquinho de gelo, perto da agua, para ficar todo molhadinho e super geladinho... É um povo estranho desde a infancia mesmo...). Abri a porta e perguntei em alemao se elas sabiam onde tinha um posto de gasolina por perto. Primeiro, elas olharam para a gente com cara de bunda (alemao sempre fica com cara de bunda quando percebe que voce é estrangeiro e fala alemao. Dá uma raiva...). Depois, responderam algo em um alemao carregado no sotaque que foi foda de entender de prima (o sotaque do norte da Alemanha é o padrao do país. E os sotaques variam MUITO de uma regiao para a outra. Ou seja: eu fui muito mimado na Alemanha). Quando eu entendi , foi a resposta clássica: nao sei. E foi assim com as alemas que encontramos mais a frente, e com todo mundo que encontramos pelo caminho: nao sabem. Inacreditável: os alemaes sao tao condicionados a tudo que fazem que simplesmente... nao sabem tudo o que saia do “ponto A ao ponto B”, do previamente planejado – afinal, nao é necessário, entao nao precisa saber. Com o advento do navegador, isso ainda piorou: muitas vezes eles nem sabem o nome da rua que passa atras da casa deles (sério, isso já aconteceu comigo), porque só precisam colocar o destino e seguir as instrucoes. Mas como eles fazem sem o navegador (que nós nao tinhamos)? Fácil: nao saem do ponto A. Simples assim.

Chegou uma hora que a gente desistiu e foi procurar no navegador mais próximo: o iPhone de um dos tugas. Nada. O lugar era tao fim do mundo que nem os postos de gasolina estavam marcados no mapa. Fudeu. O que restava era somente dirigir e esperar encontrar um posto de gasolina, rezando para  que o carro tivesse o suficiente para seguir em frente. Até que finalmente...


Encontramos um posto de gasolina! Sério, o lugar era tao fim do mundo que tinha uma pista de esqui num barranquinho  próximo, e as pessoas passavam pela gente carregadas com os equipamentos de esqui.  E frio, frio, muito frio. Daquele de ir andando de um lado para o outro aos pulinhos, correndo  o risco de levar um tombo feio e se estabacar bonito no chao – afinal, neve depois de um tempo vira uma laminha que também é feita de... gelo! E aquele seu sapatinho de solado liso desliza que é uma maravilha nessa superfície.

Depois do estresse do posto de gasolina, voltamos a auto-estrada, e claro, chegamos em Praga ainda mais atrasados do que se tivessemos parado nos postos de gasolina em Dresden. Mas ok, viagem é perrengue, é inesperado, e só a felicidade de finalmente estar visitando Praga me deixou mais simpático (só um pouco). E enfim, que venham as aventuras de Praga...